terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Gato e a Cobra



Oito horas da noite, tinha acabado de tomar banho, estava com sede e fui até a cozinha (a cozinha é uma mistura de sala de televisão e cozinha). Quando sentei na cadeira comecei a ficar curioso com o som que ouvia desde que sai do banheiro, achei que era o aspersor da irrigação ligado perto da casa, porém o som foi aumentado de intensidade. Nesse momento os arrepios começaram a fluir como um passe de mágica, reconheci aquele som e fiquei grilado, ia de alto e baixo. Fui para fora e verifiquei que o aspersor não estava ligado, voltei peguei uma lanterna e fui ver onde estava o som e lá encontrei o gato encarando alguma coisa, céus, os arrepios voltaram com força e intensidade, com certeza era mais uma chacoalhosa. Mirei o facho onde estava o barulho mas não via nada, a bicha deve estar debaixo do capim, e o gato não saia de perto, era o danado encarando a danada, e o barulho do chocalho indo de intensidade baixa e alta à medida que chegava perto. Batia o facho da lanterna e nada, a danada tá debaixo do capim mesmo, os arrepios não me lagarvam de jeito nenhum, peguei uma pedra grande e joguei no local onde calculei estar à dita cuja, me guiava pelo som que ela emitia. A cada pedrada o barulho do chocalho tornava mais intenso chegando a me irritar, me deixava louco aquele som que a mardita provocava, joguei uma pedra grande e aí o barulho cessou, calculei que acertei o chocalho dela, mas nada dela sair debaixo do capim. As pedras já estavam escassas e  foi quando senti que caiu uma coisa, olhei para a minha cintura e verifiquei que estava nu, céus estava nuzinho, agora que a a cobra começava a apontar, a toalha traidora caiu. Estava tão tomado pela situação que nem tinha notado que estava somente de toalha. Agora estava pelado diante de uma suposta cascavel, com medo e cheio de arrepios, e a toalha resolveu cair logo neste momento crucial em que a bicha resolveu dar as caras, ela saiu debaixo do capim e deu a cara para bater, recoloquei a toalha no posto dela e peguei mais pedras, não sei da onde, e joguei.  Notei que ela estava bastante enfraquecida mas mesmo assim, num certo momento, a bicha abriu o bocão e aí vi aquelas presas, cruz credo te esconjuro coisa esquisita e perigosa. Além de estar de toalha, estava só de chinelo, mas mesmo assim conseguir abater a cuja dita. E o gatinho, este é macho mesmo, não saia por nada de perto da cobra, danava com ele para sair e ele ficava ali do meu lado e pertinho das pedradas sem o menor medo, concentrado, foi meu grande aliado na batalha que se travava. Olhei em volta e havia tanta pedra que dava para construir alguma coisa com elas, reparei que a cobra estava agonizando, dei a ultima pedrada na cabeça e deixei-a lá, voltei para dentro da casa e bebi uns três copos de água. No outro dia observei a cobra de perto, ela estava morta debaixo de uma pedra grande. À tardinha saí para fazer compras no distrito, quando retornei fui ao local da  batalha dar mais uma olhada na furiosa mas, para minha surpresa, a cobra tinha sumido. Procurei pensando se ela tinha fugido, mas era impossível, com tanta pedrada que dei nela, pode ser que algum urubu tenha pegado, ou alguma ave grande, tinha um falcão grande sobrevoando ali por perto e também podia ser ele. O certo é que  nunca consegui  esclarecer este sumiço e até hoje fico matutando o destino da danada, a única prova que tenho é o chocalho, ainda quase inteiro, que achei depois de uma semana naquele mesmo lugar.

História verídica


Texto e foto: Helder Valadares
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Um comentário:

  1. Mais uma história ótima. E a foto do gatinho corajoso é linda.

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